Sete perguntas para decidir em quem NÃO votar
- universidadepopula6
- 2 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de out. de 2024
Por Volmir Cardoso Pereira
Última modificação: 02/10/2024
Durante todo processo eleitoral, é comum vermos os candidatos enchendo a boca para defender os investimentos em educação, da creche à universidade. Estas eleições municipais não têm sido diferentes. Candidatos a prefeito ou à vereança se apresentam como paladinos da educação, defensores de mais investimentos nas escolas e até falam em valorizar o salário e carreira docente! Alguns candidatos se apresentam, inclusive, como “professores”. Vote em professor fulano, professor sicrano. E o povo, meio perdido como sempre, segue preferindo votar no candidato que diz observar a bíblia, defender a “família” ou votar simplesmente naquele que libera um combustível no posto.
Neste cenário, vem-me uma questão: e nós, da universidade, como ficamos neste teatro de sombras? Ora, não é justamente a luz da razão o que nos obriga a nos posicionarmos nestes tempos sombrios, em que andam querendo proibir livros e negar a ciência, com terraplanismos e revisionismos de todo tipo?
Um primeiro ponto a se considerar é que, ainda que a nossa universidade seja “estadual”, é no chão das cidades que a vida universitária acontece. O transporte público urbano, por exemplo, interfere diretamente na rotina de um jovem universitário. Da mesma forma, a geração de empregos na cidade, o custo da moradia, dos alimentos, tudo isso envolve decisões políticas locais que irão definir se a juventude estará ou não na universidade. Portanto, as eleições municipais devem ser vistas com atenção por professores, alunos e demais membros da comunidade acadêmica.
De modo prático, gostaria de sugerir um teste com SETE PERGUNTAS para decidirmos em quem NÃO votar para prefeito ou vereador aqui em MS:
1. O candidato ou seu partido votou A FAVOR da “Reforma Previdenciária” que aumentou a contribuição para 14%, elevou tempo de contribuição e subtraiu o direito de uma aposentadoria digna para professores e demais trabalhadores?
Confira a posição dos partidos sobre o tema aqui: https://graficos.poder360.com.br/fizc5/1/
2. O candidato ou seu partido votou A FAVOR da reforma trabalhista, que abriu brechas para a terceirização de atividades-fim na educação e precarizou a vida de milhões de trabalhadores?
Confira a posição dos partidos sobre o tema aqui: https://www.poder360.com.br/congresso/saiba-como-cada-partido-se-comportou-na-votacao-da-reforma-trabalhista/
3. O candidato ou seu partido é favorável a escolas cívico-militares ou ao movimento “Escola sem partido”, que querem subtrair a liberdade de ensinar e aprender, implementando uma lógica militarista e emburrecedora na educação?
4. O candidato ou seu partido apoia políticos que foram contra a vacinação durante a Covid-19, prescrevendo cloroquina e outros tratamentos ineficazes, indo contra medidas de segurança, levando à morte mais de 700 mil brasileiros?
5. O candidato ou seu partido ataca direitos de minorias, com pautas homofóbicas, transfóbicas, misóginas ou preconceituosas?
6. O candidato ou seu partido apoiou ou apoia a violência contra os povos indígenas em MS? Qual é, por exemplo, a posição dele e de seu partido sobre o recente massacre em Douradina e Antonio João, durante a retomada dos guarani-kaiowá?
7. O candidato ou seu partido apoia ideias neoliberais que falam em “reduzir o Estado”, privatizar e cortar “gastos”, inclusive em educação? Lembre-se: trabalhamos ou estudamos em uma universidade pública...
Provavelmente muitos candidatos iriam escorregar, feito bagre ensaboado, diante dessas questões. Diriam: “não é bem assim...”. Daí a importância de se ter o pensamento crítico, pesquisar, procurar saber quem de fato se oculta atrás do sorrisinho instagramável e da auréola fabricada do santinho. Com o martelo do conhecimento e a foice da razão é que se bate no pau oco.
De resto, as eleições são ainda um momento importante dentro da frágil democracia brasileira. Por isso, nós que compomos a comunidade acadêmica da UEMS precisamos nos posicionar firmemente em prol de candidaturas comprometidas com a valorização do serviço público, contra o modelo de gestão empresarial-neoliberal, a fim de seguirmos lutando por uma educação emancipadora e uma universidade libertadora.
Defenda e apresente aos amigos o seu candidato ou candidata, pois política se discute, sim.
Mas...
Repudie veementemente os que não passarem no teste. Com roupa bem cortada, sorriso branqueado e algum cinismo, eles nada mais são do que o velho passado colonial que nós precisamos superar. Repudiá-los é a tarefa da universidade para o momento.
Adendo:
Dadas as restrições impostas a nós, servidores, pela lei eleitoral, o autor não mencionou diretamente candidaturas ou partidos, marcando um ponto de vista geral sobre as eleições em curso.
Infelizmente ainda têm sido recorrentes os casos de assédio eleitoral nas instituições, o que configura uma prática desonesta de impor uma força política a partir das relações de poder institucionais. O ideal seria que a universidade fosse um espaço de debate aberto para que as candidaturas se apresentassem e expusessem suas posições e que fizéssemos política de verdade na UEMS, ampliando a discussão democrática junto à comunidade acadêmica.
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VOLMIR CARDOSO PEREIRA
Professor efetivo do curso de Letras (UEMS - UUCG). Doutor em Estudos Literários pela UEL. Coordenador do grupo de pesquisa Universidade Popular e Cidadania Cultural (CNPq/UEMS).
nesse balaio de gato a gente precisa lembrar quem é quem